Desenvolvimento e Aprendizagem Vygotsky:
A zona de Desenvolvimento Proximal
Para J. Piaget, a aprendizagem é a alavanca dentro da reflexão
construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem e tais conceitos se
inter-relacionam. A perspectiva piagetiana preza o desenvolvimento das
funções biológicas – que é o desenvolvimento – como base para os avanços
na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica,
abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a
aprendizagem está intimamente ligada ao fato de o ser humano viver em
meio social, sendo este a alavanca principal para estes dois processos.
Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em
paralelo. Vejamos a seguir o conceito da Zona de Desenvolvimento
proximal desenvolvido por Vygotsky.
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o
psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo
processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da
aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de
conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente
aquela planejada no meio escolar, por meios de mediação.
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da
espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não é estimulado a
participar de interações sociais. Não podemos pensar que a criança vai
se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos
para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento educacional, porque
ela dependerá de aprendizagens e estímulos mediante as experiências a
que a mesma for foi exposta.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser
pensante, participante ativa do processo educacional e social, capaz de
vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura,
sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado,
onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação
entre sujeitos.
Essa interação e sua relação com a imbricação entre os processos de
ensino e aprendizagem podem ser melhor compreendidos quando nos
remetemos ao conceito de ZDP. Para Vygotsky (1996), Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é
a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado
pela capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de
desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar
problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens
que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda
mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais
desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, tais processos são
indissociáveis.
É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a aprendizagem
vai ocorrer. A função de um educador ou mediador escolar, por exemplo,
seria, então, a de favorecer esta aprendizagem sendo um meio
facilitador, servindo de ponte entre a criança e o mundo. Como foi
destacado anteriormente, é no âmago das interações no interior do
coletivo, das relações com o outro, que a criança terá condições de
construir suas próprias estruturas psicológicas. É assim que as
crianças, possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de parciais a totais.
O educador então deve estar atendo a se trabalhar, portanto, com a
estimativa das potencialidades da criança, potencialidades estas que,
para tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo de
aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam distribuídas em um
ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995).
A interação entre desenvolvimento e aprendizagem se dá da seguinte
maneira: em um contexto cultural, com aparato biológico básico
interagir, o indivíduo se desenvolve movido por mecanismos de
aprendizagem provocados por mediadores.
Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo.
Em nossas práticas pedagógicas, sempre procuramos prever em que tal ou
qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento
em que é ministrado, mas para além dele. É um processo de transformação
constante na trajetória das crianças. As implicações desta relação entre
ensino e aprendizagem para o ensino escolar estão no fato de que este
ensino deve se concentrar no que a criança está aprendendo, e não no que
já aprendeu. Vygotksy firma está hipótese no seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
PENSAMENTO E LINGUAGEM
Existem
duas grandes vertentes na Psicologia que explicam a aquisição da
linguagem: uma delas defende que a linguagem já nasce conosco; outra,
que é aprendida no meio. Vejamos os principais autores de cada uma das
partes:
Proposta ambientalista: “do nada ao tudo através da experiência”
Skinner: possibilidade de explicar a linguagem e qualquer comportamento
humano complexo pelos mesmos princípios estudados em laboratório.
A proposta inatista forte:
Chomsky: o bebê nasce com todo o aparato. Nada é aprendido no ambiente; é
apenas disparado por ele. A criança apenas vai se moldando às
especificidades da sua língua.
A proposta interacionista:
Piaget: o mecanismo interacionista —
a linguagem faz parte de uma função mais ampla, que é a capacidade de
representar a realidade através de significados que se distinguem de
significantes.
Vygotsky: raízes genéticas do
pensamento e da linguagem – linguagem é considerada como instrumento
mais complexo para viabilizar a comunicação, a vida em sociedade. Sem
linguagem, o ser humano não é social, nem histórico, nem cultural.
Bruner: Psicologia cultural –
defende a visão cultural do desenvolvimento da linguagem e coloca a
interação social no centro de sua atenção sobre o processo de aquisição.
Cole: Sociocultural – para que a
criança adquira mais do que rudimentos de linguagem, ela deve não apenas
ouvir ou ver linguagem, mas também participar de atividades que a
linguagem ajuda a criar e manter.
Segundo Vygotsky linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua
função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função
comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A
comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação
social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: a
linguagem social, que seria esta que tem por função denominar e
comunicar, e seria a primeira linguagem que surge. Depois teríamos a
linguagem egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao
pensamento.
A linguagem egocêntrica
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o
processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos – o que
estaria bem próximo ao pensamento, representa a transição da função
comunicativa para a função intelectual. Nesta transição, surge a
chamada fala egocêntrica. Trata-se
da fala que a criança emite para si mesmo, em voz baixa, enquanto está
concentrado em alguma atividade. Esta fala, além de acompanhar a
atividade infantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito,
isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual
a criança está entretida (Ribeiro, 2005).
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa mesma, e não
uma linguagem social, com funções de comunicação e interação. Esse
“falar sozinho” é essencial porque ajuda a organizar melhor as idéias e
planejar melhor as ações. É como se a criança precisasse falar para
resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do
pensamento / raciocínio.
Uma contribuição importante de Vygotsky e seus colaboradores, descrita
no livro Pensamento e Linguagem (1998), do mesmo autor, é o fato de que,
por volta dos dois anos de idade, o desenvolvimento do pensamento e da
linguagem – que até então eram estudados em separado – se fundem,
criando uma nova forma de comportamento.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir o intelecto e
os pensamentos começam tomar forma através da linguagem oral e da
construção de frases com o uso das palavras, a fase da fala egocêntrica –
é marcado pela curiosidade da criança pelas palavras, por perguntas
acerca de todas as coisas novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento
do vocabulário.
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a criança
progressivamente abstrai o som, adquirindo capacidade de “pensar as
palavras”, sem precisar dizê-las. Aí estamos entrando na fase do
discurso interior. Se, durante a fase da fala egocêntrica houver alguma
deficiência de elementos e processos de interação social, qualquer
fator que aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu
discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é importante para o
cotidiano dos educadores, em que eles podem detectar possíveis
deficiências no processo de socialização da criança. (Ribeiro, 2005)
Discurso interior e pensamento
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica. É quando as
palavras passam a ser pensadas, sem que necessariamente sejam faladas. É
um pensamento em palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do
discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver
problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É algo feito
de idéias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou demoramos
ainda um tempo para achar as palavras certas para exprimir um
pensamento.
O pensamento não coincide de forma exata com os significados das
palavras. O pensamento vai além, porque capta as relações entre as
palavras de uma forma mais complexa e completa que a gramática faz na
linguagem escrita e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às
vezes é preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma
reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos concluir que
o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, a medida em
que é a linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra
pessoa (Vygotsky, 1998)
Cabe destacar que o pensamento não é o último plano analisável da
linguagem. Podemos encontrar um último plano interior: a motivação do
pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência, que abrange
nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos
afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no
nosso pensamento. (Vygotsky 1998)
Texto > Prof. Marcos L Souza
Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
Texto > Prof. Marcos L Souza
Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
Desenvolvimento e Aprendizagem Vygotsky:
A zona de Desenvolvimento Proximal
Para J. Piaget, a aprendizagem é a alavanca dentro da reflexão
construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem e tais conceitos se
inter-relacionam. A perspectiva piagetiana preza o desenvolvimento das
funções biológicas – que é o desenvolvimento – como base para os avanços
na aprendizagem. Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica,
abordada por L. Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a
aprendizagem está intimamente ligada ao fato de o ser humano viver em
meio social, sendo este a alavanca principal para estes dois processos.
Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em
paralelo. Vejamos a seguir o conceito da Zona de Desenvolvimento
proximal desenvolvido por Vygotsky.
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o
psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo
processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da
aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de
conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente
aquela planejada no meio escolar, por meios de mediação.
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da
espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não é estimulado a
participar de interações sociais. Não podemos pensar que a criança vai
se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos
para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento educacional, porque
ela dependerá de aprendizagens e estímulos mediante as experiências a
que a mesma for foi exposta.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser
pensante, participante ativa do processo educacional e social, capaz de
vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura,
sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado,
onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação
entre sujeitos.
Essa interação e sua relação com a imbricação entre os processos de
ensino e aprendizagem podem ser melhor compreendidos quando nos
remetemos ao conceito de ZDP. Para Vygotsky (1996), Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), é
a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado
pela capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de
desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar
problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens
que ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda
mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais
desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, tais processos são
indissociáveis.
É justamente nesta zona de desenvolvimento proximal que a aprendizagem
vai ocorrer. A função de um educador ou mediador escolar, por exemplo,
seria, então, a de favorecer esta aprendizagem sendo um meio
facilitador, servindo de ponte entre a criança e o mundo. Como foi
destacado anteriormente, é no âmago das interações no interior do
coletivo, das relações com o outro, que a criança terá condições de
construir suas próprias estruturas psicológicas. É assim que as
crianças, possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de parciais a totais.
O educador então deve estar atendo a se trabalhar, portanto, com a
estimativa das potencialidades da criança, potencialidades estas que,
para tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo de
aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam distribuídas em um
ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995).
A interação entre desenvolvimento e aprendizagem se dá da seguinte
maneira: em um contexto cultural, com aparato biológico básico
interagir, o indivíduo se desenvolve movido por mecanismos de
aprendizagem provocados por mediadores.
Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo.
Em nossas práticas pedagógicas, sempre procuramos prever em que tal ou
qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento
em que é ministrado, mas para além dele. É um processo de transformação
constante na trajetória das crianças. As implicações desta relação entre
ensino e aprendizagem para o ensino escolar estão no fato de que este
ensino deve se concentrar no que a criança está aprendendo, e não no que
já aprendeu. Vygotksy firma está hipótese no seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP).
PENSAMENTO E LINGUAGEM
Existem
duas grandes vertentes na Psicologia que explicam a aquisição da
linguagem: uma delas defende que a linguagem já nasce conosco; outra,
que é aprendida no meio. Vejamos os principais autores de cada uma das
partes:
Proposta ambientalista: “do nada ao tudo através da experiência”
Skinner: possibilidade de explicar a linguagem e qualquer comportamento
humano complexo pelos mesmos princípios estudados em laboratório.
A proposta inatista forte:
Chomsky: o bebê nasce com todo o aparato. Nada é aprendido no ambiente; é
apenas disparado por ele. A criança apenas vai se moldando às
especificidades da sua língua.
A proposta interacionista:
Piaget: o mecanismo interacionista —
a linguagem faz parte de uma função mais ampla, que é a capacidade de
representar a realidade através de significados que se distinguem de
significantes.
Vygotsky: raízes genéticas do
pensamento e da linguagem – linguagem é considerada como instrumento
mais complexo para viabilizar a comunicação, a vida em sociedade. Sem
linguagem, o ser humano não é social, nem histórico, nem cultural.
Bruner: Psicologia cultural –
defende a visão cultural do desenvolvimento da linguagem e coloca a
interação social no centro de sua atenção sobre o processo de aquisição.
Cole: Sociocultural – para que a
criança adquira mais do que rudimentos de linguagem, ela deve não apenas
ouvir ou ver linguagem, mas também participar de atividades que a
linguagem ajuda a criar e manter.
Segundo Vygotsky linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua
função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função
comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A
comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação
social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases: a
linguagem social, que seria esta que tem por função denominar e
comunicar, e seria a primeira linguagem que surge. Depois teríamos a
linguagem egocêntrica e a linguagem interior, intimamente ligada ao
pensamento.
A linguagem egocêntrica
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o
processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos – o que
estaria bem próximo ao pensamento, representa a transição da função
comunicativa para a função intelectual. Nesta transição, surge a
chamada fala egocêntrica. Trata-se
da fala que a criança emite para si mesmo, em voz baixa, enquanto está
concentrado em alguma atividade. Esta fala, além de acompanhar a
atividade infantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito,
isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual
a criança está entretida (Ribeiro, 2005).
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa mesma, e não
uma linguagem social, com funções de comunicação e interação. Esse
“falar sozinho” é essencial porque ajuda a organizar melhor as idéias e
planejar melhor as ações. É como se a criança precisasse falar para
resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do
pensamento / raciocínio.
Uma contribuição importante de Vygotsky e seus colaboradores, descrita
no livro Pensamento e Linguagem (1998), do mesmo autor, é o fato de que,
por volta dos dois anos de idade, o desenvolvimento do pensamento e da
linguagem – que até então eram estudados em separado – se fundem,
criando uma nova forma de comportamento.
Este momento crucial, quando a linguagem começa a servir o intelecto e
os pensamentos começam tomar forma através da linguagem oral e da
construção de frases com o uso das palavras, a fase da fala egocêntrica –
é marcado pela curiosidade da criança pelas palavras, por perguntas
acerca de todas as coisas novas (“o que é isso?”) e pelo enriquecimento
do vocabulário.
O declínio da vocalização egocêntrica é sinal de que a criança
progressivamente abstrai o som, adquirindo capacidade de “pensar as
palavras”, sem precisar dizê-las. Aí estamos entrando na fase do
discurso interior. Se, durante a fase da fala egocêntrica houver alguma
deficiência de elementos e processos de interação social, qualquer
fator que aumente o isolamento da criança, iremos perceber que seu
discurso egocêntrico aumentará subitamente. Isso é importante para o
cotidiano dos educadores, em que eles podem detectar possíveis
deficiências no processo de socialização da criança. (Ribeiro, 2005)
Discurso interior e pensamento
O discurso interior é uma fase posterior à fala egocêntrica. É quando as
palavras passam a ser pensadas, sem que necessariamente sejam faladas. É
um pensamento em palavras. Já o pensamento é um plano mais profundo do
discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver
problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É algo feito
de idéias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou demoramos
ainda um tempo para achar as palavras certas para exprimir um
pensamento.
O pensamento não coincide de forma exata com os significados das
palavras. O pensamento vai além, porque capta as relações entre as
palavras de uma forma mais complexa e completa que a gramática faz na
linguagem escrita e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às
vezes é preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma
reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos concluir que
o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, a medida em
que é a linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra
pessoa (Vygotsky, 1998)
Cabe destacar que o pensamento não é o último plano analisável da
linguagem. Podemos encontrar um último plano interior: a motivação do
pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência, que abrange
nossas inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos
afetos e emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no
nosso pensamento. (Vygotsky 1998)
Texto > Prof. Marcos L Souza
Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
Texto > Prof. Marcos L Souza
Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.
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