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RESENHA DO LIVRO:
"A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER", DE PAULO FREIRE
Introdução
Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.
RESENHA DO LIVRO:
"A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER", DE PAULO FREIRE
Introdução
O livro “A
Importância do Ato de Ler” de Paulo Freire, relata os aspectos da
biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos
desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe.
Ao mesmo tempo, nos
esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e
também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização,
colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer
deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e
construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador,
de que ele é também um sujeito.
1 - a importância do ato de ler
Segundo Paulo
Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de
ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura”
do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra
que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra
mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de
sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas
primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele
contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais
aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas,
de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com
eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.
A leitura do seu
mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de
ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma
prática consciente.
Esse movimento
dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que
deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a
sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência
existencial e não da experiência do educador.
A alfabetização é a
criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as
palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a
eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações
da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações
concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura”
anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na
percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do lido.
1.1 - Alfabetização de Adultos e Biblioteca Populares: Uma introdução
Para Paulo Freire
falar de alfabetização de adultos e de biblioteca populares é falar,
entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita. Não da leitura
de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e
escrevê-las, não implicasse uma outra leitura da realidade mesma, para
aclarar o que chama de prática e compreensão crítica da alfabetização.
Do ponto de vista
crítico é tão impossível negar a natureza política do processo educativo
quanto negar o caráter educativo do ato político. Quanto mais ganhamos
esta clareza através da prática, mais percebemos a impossibilidade de
separar a educação da política e do poder.
A relação entre a
educação enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas
contraditórias. As contradições que caracterizam a sociedade como está
sendo, penetram a intimidade das instituições pedagógica em que a
educação sistemática se está dando e alterando o seu papel ou o seu
esforço reprodutor da ideologia dominante.
O que temos de
fazer então, enquanto educadoras ou educadores, é aclarar assumindo a
nossa opção que é política, e ser coerentes com ela na prática.
A questão da
coerência entre a opção proclamada e a prática é uma das exigências que
educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é
o discurso o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso.
Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o
transfere a estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias
palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar
seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem
democracia.
Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconsciente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.
Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos educandos.
Uma visão da
educação é na intimidade das consciências, movida pela bondade dos
corações, que o mundo se refaz. É, já que a educação modela as almas e
recria corações ela é a alavanca das mudanças sociais.
Se antes a
transformação social era entendida de forma simplista, fazendo-se com a
mudança, primeiro das consciências, como se fosse a consciência de fato,
a transformadora do real, agora a transformação social é percebida como
um processo histórico.
Se antes a
alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária,
centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo educador aos
analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos
alunos escondiam a realidade, agora pelo contrário, alfabetização como
ato de conhecimento, como um ato criador e como ato político é um
esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é possível textos
sem contexto.
A alfabetização de
adultos e pós-alfabetização implicam esforços no sentido de uma correta
compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as relações com o
contexto de quem fala, de quem lê e escreve, compressão, portanto da
relação entre “leitura” do mundo e leitura da palavra. Daí a necessidade
que tem uma de biblioteca popular, buscando o adentramento crítico no
texto, procurando aprender a sua significação mais profunda, propondo
aos leitores uma experiência estética, de que a linguagem popular é
inteiramente rica.
A forma com que
atua uma biblioteca popular, a constituição do seu acervo, as atividades
que podem ser desenvolvidas no seu interior, tudo isso tem que ser como
uma certa política cultural.
Se antes raramente
os grupos populares eram estimulados a escrever seus textos, agora é
fundamental fazê-lo, desde o começo da alfabetização para que, na
pós-alfabetização, se vá tentando a formação do que poderá vir a ser uma
pequena biblioteca popular com a inclusão de páginas escritas pelos
próprios educandos.
1.2 - O Povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe
Segundo Freire com
a alfabetização de adultos no contexto da República Democrática de São
Tomé e Príncipe, a cujo governo vem dando juntamente com Elza Freire,
uma contribuição no campo da educação de adultos como assessor, se torna
indispensável uma concordância em torno de aspectos fundamentais entre o
assessor e o governo assessorado. Seria impossível, por exemplo, dar
uma colaboração, por mínima que fosse a uma campanha de alfabetização de
adultos promovido por um governo antipopular. Não poderia assessorar um
governo que em nome da primazia da “aquisição” de técnicas de ler e
escrever palavras por parte dos alfabetizando, exigi-se, ou simplesmente
sugerisse que fizesse a dicotomia entre a leitura do texto e a
leitura do contexto. Um governo para quem a leitura do concreto, o
desenvolvimento do mundo não são um direito do povo, que, por isso
mesmo, deve ficar reduzido à leitura mecânica da palavra.
É exatamente este
aspecto importante — o da relação dinâmica entre a leitura da palavra e a
leitura da realidade em que nós encontramos coincidentes os governos de
São Tomé e Príncipes e nós.
Todo esforço que
vem sendo feito em São Tomé e Príncipe na prática da alfabetização de
adultos como na da pós-alfabetização se orienta neste sentido. Os
cadernos de cultura popular vêm sendo usados pelos educandos como livros básicos, com exercícios chamados Praticar para o Aprender.
A linguagem dos textos é desafiadora e não sloganizado. O que se quer é
a participação efetiva do povo enquanto sujeito, na reconstrução do
país, a serviço de que a alfabetização e a pós-alfabetização se acham.
Por isso mesmo os cadernos não são nem poderiam ser livros neutros, é a
participação crítica e democrática dos educandos no ato de conhecimento
de que são também sujeitos. É a participação do povo no processo de
reinvenção de sua sociedade, no caso a sociedade são tomense,
recém-independente do jugo colonial, que há tanto tempo a submetia.
É preciso, na
verdade, que a alfabetização de adultos e a pós-alfabetização, a serviço
da reconstrução nacional, contribuam para que o povo, tomando mais e
mais a sua História nas mãos, se refaça na leitura da História, estando presente nela e não simplesmente nela estar representado.
No fundo o ato de
estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da
forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos,
seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem, mas sabem que
sabem.
O povo tem de conhecer melhor, o que já conhece em razão da sua prática e de conhecer o que ainda não conhece.
Nesse processo, não
se trata propriamente de entregar ou de transferir às massas populares a
explicação mais rigorosa dos fatos como algo acabado, paralisado,
pronto, mas contar, estimulando e desafiando, com a capacidade de fazer,
de pensar, de saber e de criar das massas populares.
Na alfabetização pós-alfabetização não nos interessa transferir ao Povo
frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução
nacional, exigem de todos nós uma participação consciente em qualquer
nível, exige ação e pensamento, exige prática e teoria, procurar
descobrir de entender o que se acha mais escondido nas coisas e aos
fatos que nós observamos e analisando.
A reconstrução nacional precisa de que o nosso Povo conheça mais e melhor a nossa realidade.
2 - análise das idéias do autor
Ao elaborar uma
síntese das reflexões sobre o livro “A Importância do Ato de Ler” e as
relações da biblioteca popular com a alfabetização de adulto de Paulo
Freire, leva-nos a compreensão da prática democrática e crítica da
leitura do mundo e da palavra, onde a leitura não deve ser memorizada
mecanicamente, mas ser desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a
realidade em que vivemos. “É preciso que quem sabe, saiba sobre tudo que ninguém sabe tudo e que ninguém tudo ignora” (FREIRE, p.32).
É essencial que
saibamos valorizar a cultura popular em que nosso aluno está inserido,
partindo desta cultura, e procurando aprofundar seus conhecimentos, para
que participe do processo permanente da sua libertação.
“A biblioteca
popular como centro cultural e não como um depósito silencioso de
livros, é vista como um fator fundamental para o aperfeiçoamento e a
intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação com o
contexto” (FREIRE, p.38).
Nesse sentido a
atuação da biblioteca popular, tem algo a ver com uma política cultural,
pois incentiva a compressão crítica do que é a palavra escrita, a
linguagem, as suas relações com o contexto, para que o povo participe
ativamente das mudanças constantes da sociedade.
“O processo de
aprendizagem na alfabetização de adultos está envolvida na prática de
ler, de interpretar o que lêem, de escrever, de contar, de aumentar os
conhecimentos que já têm e de conhecer o que ainda não conhecem, para
melhor interpretar o que acontece na nossa realidade” (FREIRE, p. 48).
Isso só conseguimos
através de uma educação que estimule a colaboração, que dê valor à
ajuda mútua, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade: uma
educação que incentive o educando unindo a prática e a teoria, com uma
política educacional condizente com os interesses do nosso Povo.
Conclusão
Concluímos com a
leitura desse livro, nós educadores e educandos para melhorarmos nossa
prática devemos começar a avalizar que, a importância do ato de ler, não
está na compreensão errônea de que ler é devorar de bibliografias, sem
realmente serem lidas ou estudadas. Devemos ler sempre e seriamente
livros que nos interessem, que favoreçam a mudança da nossa prática,
procurando nos adentrarmos nos textos, criando aos poucos uma disciplina
intelectual que nos levará enquanto professores e estudantes não
somente fazermos uma leitura do mundo, mas escrevê-lo o reescrevê-lo, ou
seja, transformá-lo através de nossa prática consciente.
Sabemos que, se
mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler, teremos condições de
formar as nossas bibliotecas populares, incentivando os grupos populares
e a escrever seus textos desde o início da alfabetização; assim iríamos
aos poucos formando acervos históricos escritos pelos próprios
educandos.
E através da
cultura popular o que se quer é a afetiva participação do povo enquanto
sujeito na construção do país, pois quanto mais consciente o povo faça
sua história, tanto mais que o povo perceberá, com lucidez as
dificuldades que tem a enfrentar, no domínio econômico, social e
cultural, no processo permanente de sua libertação.
Referência bibliográfica
Folha online Sul SC
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RESENHA DO LIVRO:
"A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER", DE PAULO FREIRE
Introdução
Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.
RESENHA DO LIVRO:
"A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER", DE PAULO FREIRE
Introdução
O livro “A
Importância do Ato de Ler” de Paulo Freire, relata os aspectos da
biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos
desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe.
Ao mesmo tempo, nos
esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e
também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização,
colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer
deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e
construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador,
de que ele é também um sujeito.
1 - a importância do ato de ler
Segundo Paulo
Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de
ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura”
do mundo do pequeno mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra
que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra
mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de
sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas
primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele
contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais
aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas,
de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com
eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.
A leitura do seu
mundo foi sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de
ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma
prática consciente.
Esse movimento
dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que
deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a
sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência
existencial e não da experiência do educador.
A alfabetização é a
criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as
palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a
eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações
da realidade. No fundo esse conjunto de representações de situações
concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura”
anterior do mundo, antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na
percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do lido.
1.1 - Alfabetização de Adultos e Biblioteca Populares: Uma introdução
Para Paulo Freire
falar de alfabetização de adultos e de biblioteca populares é falar,
entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita. Não da leitura
de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e
escrevê-las, não implicasse uma outra leitura da realidade mesma, para
aclarar o que chama de prática e compreensão crítica da alfabetização.
Do ponto de vista
crítico é tão impossível negar a natureza política do processo educativo
quanto negar o caráter educativo do ato político. Quanto mais ganhamos
esta clareza através da prática, mais percebemos a impossibilidade de
separar a educação da política e do poder.
A relação entre a
educação enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas
contraditórias. As contradições que caracterizam a sociedade como está
sendo, penetram a intimidade das instituições pedagógica em que a
educação sistemática se está dando e alterando o seu papel ou o seu
esforço reprodutor da ideologia dominante.
O que temos de
fazer então, enquanto educadoras ou educadores, é aclarar assumindo a
nossa opção que é política, e ser coerentes com ela na prática.
A questão da
coerência entre a opção proclamada e a prática é uma das exigências que
educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é
o discurso o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso.
Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o
transfere a estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias
palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar
seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem
democracia.
Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconsciente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.
Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos educandos.
Uma visão da
educação é na intimidade das consciências, movida pela bondade dos
corações, que o mundo se refaz. É, já que a educação modela as almas e
recria corações ela é a alavanca das mudanças sociais.
Se antes a
transformação social era entendida de forma simplista, fazendo-se com a
mudança, primeiro das consciências, como se fosse a consciência de fato,
a transformadora do real, agora a transformação social é percebida como
um processo histórico.
Se antes a
alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária,
centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo educador aos
analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos
alunos escondiam a realidade, agora pelo contrário, alfabetização como
ato de conhecimento, como um ato criador e como ato político é um
esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é possível textos
sem contexto.
A alfabetização de
adultos e pós-alfabetização implicam esforços no sentido de uma correta
compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as relações com o
contexto de quem fala, de quem lê e escreve, compressão, portanto da
relação entre “leitura” do mundo e leitura da palavra. Daí a necessidade
que tem uma de biblioteca popular, buscando o adentramento crítico no
texto, procurando aprender a sua significação mais profunda, propondo
aos leitores uma experiência estética, de que a linguagem popular é
inteiramente rica.
A forma com que
atua uma biblioteca popular, a constituição do seu acervo, as atividades
que podem ser desenvolvidas no seu interior, tudo isso tem que ser como
uma certa política cultural.
Se antes raramente
os grupos populares eram estimulados a escrever seus textos, agora é
fundamental fazê-lo, desde o começo da alfabetização para que, na
pós-alfabetização, se vá tentando a formação do que poderá vir a ser uma
pequena biblioteca popular com a inclusão de páginas escritas pelos
próprios educandos.
1.2 - O Povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe
Segundo Freire com
a alfabetização de adultos no contexto da República Democrática de São
Tomé e Príncipe, a cujo governo vem dando juntamente com Elza Freire,
uma contribuição no campo da educação de adultos como assessor, se torna
indispensável uma concordância em torno de aspectos fundamentais entre o
assessor e o governo assessorado. Seria impossível, por exemplo, dar
uma colaboração, por mínima que fosse a uma campanha de alfabetização de
adultos promovido por um governo antipopular. Não poderia assessorar um
governo que em nome da primazia da “aquisição” de técnicas de ler e
escrever palavras por parte dos alfabetizando, exigi-se, ou simplesmente
sugerisse que fizesse a dicotomia entre a leitura do texto e a
leitura do contexto. Um governo para quem a leitura do concreto, o
desenvolvimento do mundo não são um direito do povo, que, por isso
mesmo, deve ficar reduzido à leitura mecânica da palavra.
É exatamente este
aspecto importante — o da relação dinâmica entre a leitura da palavra e a
leitura da realidade em que nós encontramos coincidentes os governos de
São Tomé e Príncipes e nós.
Todo esforço que
vem sendo feito em São Tomé e Príncipe na prática da alfabetização de
adultos como na da pós-alfabetização se orienta neste sentido. Os
cadernos de cultura popular vêm sendo usados pelos educandos como livros básicos, com exercícios chamados Praticar para o Aprender.
A linguagem dos textos é desafiadora e não sloganizado. O que se quer é
a participação efetiva do povo enquanto sujeito, na reconstrução do
país, a serviço de que a alfabetização e a pós-alfabetização se acham.
Por isso mesmo os cadernos não são nem poderiam ser livros neutros, é a
participação crítica e democrática dos educandos no ato de conhecimento
de que são também sujeitos. É a participação do povo no processo de
reinvenção de sua sociedade, no caso a sociedade são tomense,
recém-independente do jugo colonial, que há tanto tempo a submetia.
É preciso, na
verdade, que a alfabetização de adultos e a pós-alfabetização, a serviço
da reconstrução nacional, contribuam para que o povo, tomando mais e
mais a sua História nas mãos, se refaça na leitura da História, estando presente nela e não simplesmente nela estar representado.
No fundo o ato de
estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da
forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos,
seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem, mas sabem que
sabem.
O povo tem de conhecer melhor, o que já conhece em razão da sua prática e de conhecer o que ainda não conhece.
Nesse processo, não
se trata propriamente de entregar ou de transferir às massas populares a
explicação mais rigorosa dos fatos como algo acabado, paralisado,
pronto, mas contar, estimulando e desafiando, com a capacidade de fazer,
de pensar, de saber e de criar das massas populares.
Na alfabetização pós-alfabetização não nos interessa transferir ao Povo
frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução
nacional, exigem de todos nós uma participação consciente em qualquer
nível, exige ação e pensamento, exige prática e teoria, procurar
descobrir de entender o que se acha mais escondido nas coisas e aos
fatos que nós observamos e analisando.
A reconstrução nacional precisa de que o nosso Povo conheça mais e melhor a nossa realidade.
2 - análise das idéias do autor
Ao elaborar uma
síntese das reflexões sobre o livro “A Importância do Ato de Ler” e as
relações da biblioteca popular com a alfabetização de adulto de Paulo
Freire, leva-nos a compreensão da prática democrática e crítica da
leitura do mundo e da palavra, onde a leitura não deve ser memorizada
mecanicamente, mas ser desafiadora que nos ajude a pensar e analisar a
realidade em que vivemos. “É preciso que quem sabe, saiba sobre tudo que ninguém sabe tudo e que ninguém tudo ignora” (FREIRE, p.32).
É essencial que
saibamos valorizar a cultura popular em que nosso aluno está inserido,
partindo desta cultura, e procurando aprofundar seus conhecimentos, para
que participe do processo permanente da sua libertação.
“A biblioteca
popular como centro cultural e não como um depósito silencioso de
livros, é vista como um fator fundamental para o aperfeiçoamento e a
intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação com o
contexto” (FREIRE, p.38).
Nesse sentido a
atuação da biblioteca popular, tem algo a ver com uma política cultural,
pois incentiva a compressão crítica do que é a palavra escrita, a
linguagem, as suas relações com o contexto, para que o povo participe
ativamente das mudanças constantes da sociedade.
“O processo de
aprendizagem na alfabetização de adultos está envolvida na prática de
ler, de interpretar o que lêem, de escrever, de contar, de aumentar os
conhecimentos que já têm e de conhecer o que ainda não conhecem, para
melhor interpretar o que acontece na nossa realidade” (FREIRE, p. 48).
Isso só conseguimos
através de uma educação que estimule a colaboração, que dê valor à
ajuda mútua, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade: uma
educação que incentive o educando unindo a prática e a teoria, com uma
política educacional condizente com os interesses do nosso Povo.
Conclusão
Concluímos com a
leitura desse livro, nós educadores e educandos para melhorarmos nossa
prática devemos começar a avalizar que, a importância do ato de ler, não
está na compreensão errônea de que ler é devorar de bibliografias, sem
realmente serem lidas ou estudadas. Devemos ler sempre e seriamente
livros que nos interessem, que favoreçam a mudança da nossa prática,
procurando nos adentrarmos nos textos, criando aos poucos uma disciplina
intelectual que nos levará enquanto professores e estudantes não
somente fazermos uma leitura do mundo, mas escrevê-lo o reescrevê-lo, ou
seja, transformá-lo através de nossa prática consciente.
Sabemos que, se
mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler, teremos condições de
formar as nossas bibliotecas populares, incentivando os grupos populares
e a escrever seus textos desde o início da alfabetização; assim iríamos
aos poucos formando acervos históricos escritos pelos próprios
educandos.
E através da
cultura popular o que se quer é a afetiva participação do povo enquanto
sujeito na construção do país, pois quanto mais consciente o povo faça
sua história, tanto mais que o povo perceberá, com lucidez as
dificuldades que tem a enfrentar, no domínio econômico, social e
cultural, no processo permanente de sua libertação.
Referência bibliográfica
Folha online Sul SC
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